Veja como a saúde mental está diretamente relacionada com os nossos medos.
Vamos nos servir da modalidade de ciclismo para a reflexão, lembrando que a essência deste conteúdo se aplica a outras modalidades.
O ciclismo foi vivenciado por grande parte das pessoas ainda na infância. O desafio para se equilibrar em movimento, a tensão para não cair, o vento na “cara”, a velocidade e as distâncias percorridas fizeram parte da vida de muitos meninos e meninas.
Na bicicleta éramos “donos” na nossa liberdade. Dava medo, mas éramos incentivados a enfrentar. Pais, familiares ou amigos sempre estavam juntos para os primeiros empurrões. E é claro que as quedas e os ralados eram inevitáveis… sobrevivemos ( risos )
Com o passar dos anos e com as mudanças sociais e culturais fomos sofrendo uma metamorfose nos valores e nas maneiras de viver a vida. E seja por questões de segurança ou por uma superproteção, a cada geração, uma educação mais estruturada nos discursos do medo e da ameaça envolveram nossa atmosfera.
Tudo faz mal ou faz morrer.
Quando trazemos esse olhar para o mundo das bikes, identificamos muitas pessoas com medo de encarar o frio, a chuva, o sol, o vento ou qualquer outra variação inóspita. Deixando assim de experimentar as pedaladas nas adversidades climáticas.
Outro medo comum está nos pedais de longas distâncias, onde a insegurança com a bike ou mesmo com a própria condição física bloqueia as possibilidades para vivenciarmos novos caminhos, lindas estradas e belas trilhas.
E finalmente neste artigo de opinião quero citar o medo de ser julgado pelo outro. Incontáveis pessoas deixam de utilizar a bike no seu dia a dia, imaginando que será discriminada por não chegar nos locais de trabalho ou de diversão com o seu belo carro ou transportadas por serviços nobres de aplicativos.
Sob o olhar da psicanálise, todas essas construções psíquicas possuem uma origem primitiva que nos leva a preservação da sobrevivência, da proteção, da competição ou do desejo sexual.
Seguindo a ordem de apresentação dos medos citados vivemos inconscientemente:
– O medo de ficar doente e colocar em risco a sobrevivência, por isso não pedalamos em condições climáticas adversas;
– Não vamos para longas distâncias com o medo de não vencermos uma competição imaginaria e inconsciente, onde podemos demonstrar fraqueza frente os nossos amigos do pedal;
– Também não utilizamos a bike no dia a dia com medo de sermos julgados e excluídos do nosso grupo social, por não estarmos em belos carros, que são sinônimos de sucesso e riqueza, diminuindo nossa sensação de pertencimento e proteção.
Mas como podemos diminuir nossos medos? Existe essa possibilidade?
Sim, existe, mas é essencial dizer que o medo na medida certa e por situações reais é benéfico, apenas não podemos aceitar um medo excessivo e imaginário, onde poderá castrar nossas possibilidades de experimentar o novo e viver a vida.
Portanto sempre que surgir o medo ou a insegurança exagerada, leve esses sentimentos para o racional, para a mente consciente e analise se a sua escolha (fazer ou não fazer) é sensata ou se você está preso ao irreal, naquilo que não existe e acaba interferindo nas suas escolhas.
A ajuda profissional de um psicanalista ou profissional da saúde mental pode ser fundamental para melhorar o autoconhecimento e aliviar os sintomas negativos de medo e das ameaças que levam ao sofrimento.
Assim, fica a orientação:
“Vamos cuidar da saúde mental e física para pedalar e desfrutar de novos desafios das atividades esportivas”
Anderson do Prado-Pinduca
Psicanalista e Personal Trainer @pinducaprado